Adriana Fernandes

Jornalista em Brasília, onde acompanha os principais acontecimentos econômicos e políticos há mais de 25 anos

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Dólar se aproxima de R$ 5,60 e só Lula pode interromper escalada

A frase mais recomendada ao presidente é a do ex-ministro Simonsen: A inflação aleija, mas o câmbio mata

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Brasília

O momento é ruim para o câmbio e também para o governo Lula. O dólar se aproximou de R$ 5,60 nesta sexta-feira (28), amplificando os riscos da escalada da moeda norte-americana para a inflação no segundo semestre do ano.

É difícil saber o quanto da alta tem a ver com os ruídos das falas recentes do presidente Lula, o impasse das medidas de ajuste fiscal, e o que está relacionado ao fechamento da taxa no último dia útil de junho, com os operadores do mercado querendo bombar o bônus do final do mês. Lula colocou em dúvida a necessidade de efetuar um corte de gastos para melhorar o equilíbrio fiscal.

É fato que a taxa de câmbio no Brasil está disfuncional e piorando o cenário econômico brasileiro a cada semana que passa. No início do processo de aceleração da desvalorização do real diante da piora do cenário fiscal, a cotação estava em R$ 5,10.

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O que explicaria uma desvalorização tão alta?

Apesar do negacionismo de Lula ao chamar de cretinos os que afirmaram que o dólar subiu por causa de suas declarações, o movimento tem relação com a sua comunicação errática sobre o esforço do governo para reduzir despesas e salvar o novo arcabouço fiscal do fracasso.

Tanto é que o dólar piorou após relatório da XP apontando que estimativas do governo indicavam a necessidade de um bloqueio orçamentário de R$ 5 bilhões, além de um contingenciamento entre R$ 3 bilhões e R$ 5 bilhões. Valores considerados muito baixos diante das projeções dos especialistas, como mostrou a Folha.

A piora da taxa de câmbio vai mexer na expectativa de inflação e na chamada inflação implícita, uma forma de medir as expectativas dos agentes econômicos para a trajetória de preços a partir dos juros praticados no mercado

Com o dólar em alta, o cenário mais provável de acontecer é a economia brasileira chegar no segundo semestre com os preços mais altos dos alimentos e dos produtos e serviços tradables (negociáveis no comércio internacional).

A certeza é que governo e o PT sairão machucados na segunda metade do ano, que começa agora. Uma melhor coordenação das expectativas sobre a política fiscal não serve mais.

Chegou-se a um ponto que só a comunicação não vai resolver. Esse diagnóstico é compartilhado pela equipe econômica e o Banco Central.

O diretor do BC, Gabriel Galípolo, favorito para substituir Roberto Campos Neto no comando da instituição, chamou atenção para o cenário de evolução rápida na desvalorização do real perante o dólar.

O Banco Central não fez intervenções no câmbio e segue avaliando as condições de mercado e o tamanho da disfuncionalidade do mercado.

Galípolo alertou que o patamar mais elevado do câmbio sugere uma desinflação mais lenta ou mais custosa no Brasil. Para bom entendedor, basta.

Para cada fala do presidente contrária a uma medida de ajuste, fecha-se uma porta para os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) interromperem a deterioração das expectativas com o futuro das contas públicas.

O mercado reage a isso.

Como a aprovação das medidas fiscais depende de Lula e ele vai indicar o próximo presidente do BC, do ponto de vista da política monetária e fiscal, o que o presidente fala passou a importar até mais do que diz Campos Neto, próximo de deixar o cargo.

Haddad também pode falar o que quiser para reforçar o compromisso com o corte de despesas. Se o presidente Lula sair e falar uma coisa diferente, atrapalha a tentativa do ministro de coordenação das expectativas.

É Lula, portanto, quem faz preço (como falam no mercado), seja pela política monetária ou política fiscal. Ocupou o poder de coordenação das expectativas de Haddad e do presidente do BC.

Nos gabinetes de Brasília, a frase mais recomendada a ser levada ao presidente Lula é a do ex-ministro Mário Henrique Simonsen: A inflação aleija, mas o câmbio mata.

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